Inteligência artificial muda a forma da gente se relacionar com o mundo

A inteligência artificial tem mudado o jeito como a gente faz as coisas e se relaciona com tudo. Ela nos ajuda a gerar e acompanhar todo o volume de dados de forma automatizada, algo que seria humanamente impossível por questões fisiológicas. Mas a nova questão é que, mudando nossas relações, mudam nossas preferências, gostos e hobbies. Quer um exemplo?

Você já deve ter ido a alguns museus em suas viagens. Geralmente, as pessoas se enquadram no grupo daqueles que amam e valorizam essa experiência, pelo conhecimento que ela agrega. Ou está entre aqueles que acham este tipo de programa monótono e pouco desafiador, talvez pela falta de conhecimento prévio e entendimento mesmo.

Vamos dizer que você se enquadre no segundo grupo. Agora, imagine você entrar num museu e conversar com as obras de arte? Poder interagir, fazer perguntas a elas, sem receio e jeito certo. E o melhor: elas responderem!

É que, tradicionalmente, visitamos um museu sempre da mesma forma. Em silêncio, olhando as obras do acervo expostas. Muitas vezes, não entendemos bem aquilo que vemos e temos muitas curiosidades não respondidas. Às vezes saímos com mais dúvidas do que entramos sobre o assunto de interesse. Neste caso, a ida ao museu, para alguns, acaba sendo o ponto inicial de uma nova pesquisa.

Esse tipo de interação é capaz de mudar a sua forma de ver e reagir a uma ideia e experiência, como a de uma visita no museu. Você pode passar a adorar e quem já gosta, vivenciar isso de forma mais rica, atrativa e emocionante.

Caso você não saiba, essa experiência já foi realizada, há dois anos, com o uso da inteligência artificial e parceria entre a IBM e a Pinacoteca de São Paulo. Milhares de pessoas experimentaram essa interação durante o projeto “A Voz da Arte” e mudaram seu conceito de interação numa mostra.

Quem passou por lá pôde bater um papo com a ajuda do Watson da IBM, representante da plataforma de serviços cognitivos criada para negócios. A empresa usou a computação cognitiva para tornar o passeio do público ao museu mais interativo e personalizado, uma iniciativa considerada inédita e que comemorou seus 100 anos no Brasil.

Com a tecnologia Watson, foi criado um assistente cognitivo que respondia às perguntas dos visitantes sobre sete obras de arte do acervo da Pina. Essa cognição é feita por meio do processo de aprendizado da mente humana, usada para adquirir conhecimento a partir de informações recebidas.

“O Watson permite que você use uma quantidade muito maior das informações, que é possível compreender no ser humano, para tomar decisões melhores”, explica Marco Aurelio Cardoso, desenvolvedor de aplicações da IBM.

“A inteligência artificial pode mudar o jeito como a gente se relaciona com tudo”, diz.

Obras de arte respondem com ajuda de assistente cognitivo

Essa inteligência permitiu que a experiência das pessoas no museu fosse muito mais divertida, mais interativa e individualizada. A visita guiada com a tecnologia IBM Watson pelo museu provou ser possível fazer uso da inteligência artificial para aproximar as pessoas da arte e da história por meio da arte.

Para o Phd e líder técnico do grupo da Watson da América Latina, Fabrício Barth, o grande desafio era relacionar a inteligência artificial com arte. “Porque, normalmente, no museu, você encontra um rádio e você vai ouvindo, não interage de fato”.

“Usando a inteligência artificial do Watson, o público pôde, literalmente, conversar com as obras de arte. Perguntar qualquer coisa, do jeito que quisesse e ter uma resposta”, explicou Fabrício Barth.

Entenda o que é e como funciona a inteligencia artificial no seu dia a dia

O diálogo com o uso da inteligência Watson, no caso deste projeto de inteligência artificial ligado ao museu, era rico em conhecimento histórico, tanto de informações objetivas quanto subjetivas, ligado ao presente, passado e futuro. Por isso, surpreendeu crianças e adultos.

O público fez perguntas relacionadas a informações e até sentimentos dos personagens retratados nas telas. E o resultado foi emocionante: a exemplo de um índio, ao ser questionado e responder sobre medo, solidão, saudade, família e ancestralidade.

Esse tipo de comunicação, ligada às inovações tecnológicas, fornece impressões mais precisas e, contraditoriamente, mais humanas, para as interações. O conhecimento é melhor absorvido e pode ser pesquisado de forma rápida e passado para as próximas gerações.

Como foi realizada essa incrível experiência?

A visita guiada acontecia de forma simples e intuitiva. Os visitantes da exposição recebiam um fone de ouvido e um Smartphone com o app “A Voz da Arte” instalado nele. Conforme andavam pelos salões e se aproximavam das obras interativas, iam recebendo notificações para que fossem estimulados a fazerem perguntas para as obras.

O sistema usa beacons, que são sensores bluetooth de geolocalização, para permitir que essas informações e notificações sejam dadas por meio da aproximação de uma obra. O app do projeto usa um chatbot cognitivo acionado por sistema de voz e de entendimento da linguagem humana por meio de serviços de inteligência artificial da IBM.

Como essa interpretação inteligente funciona?

Por meio da inteligência artificial, que conta com diversos tipos de aprendizado, primeiro o Watson reconhece a voz do visitante e converte sua fala em texto. Depois usa outras de suas APIs (Interface de Programação de Aplicações) para ler e identificar a intenção por trás da pergunta. Então encontra a melhor resposta para aquela intenção e converte novamente em voz, devolvendo em forma de resposta ao visitante.

Toda essa interação era feita por áudio e voz, com exceção dos deficientes auditivos, que tinham a opção de interagir via chat.

É ou não algo memorável?

Segundo a Ogilvy, agência de comunicação parceira, a campanha foi premiada com 3 Leões no Festival de Cannes 2017 e o retorno de mídia espontânea foi avaliado em US$ 3 milhões.

Inteligência cultural faz a ponte entre o passado e o futuro

Para Valéria Piccoli, curadora chefe da Pinacoteca de São Paulo, o espaço aposta nos meios tradicionais, como oferecer textos e legendas comentadas nas exposições. Mas também amplia ao usar a tecnologia ao seu favor, oferecendo outras possibilidades de interpretação.

O diretor de Relações Institucionais da Pinacoteca diz que é fundamental para as instituições culturais, “incentivar os visitantes a olharem os museus como um espaço que preserva a memória, mas que ao mesmo tempo é vivo. Que preserva um passado, mas também está aberto para o presente e olha para o futuro”.

Isso diz respeito à forma como as pessoas estão se relacionando, inclusive com a arte.

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